Boa tarde pessoal,
era segunda a tarde quando uma amiga jornalista veio me dizer que na terça, ia rolar um desfile de Moda Inclusiva. Eu que não sabia muito sobre o assunto, fui procurar mais informações e na terça lá estava eu para o 2° Fórum Internacional de Moda Inclusiva e Sustentabilidade e na sequência o desfile final do 5° Concurso Internacional de Moda Inclusiva. E adivinhem só? Acabei me apaixonando novamente por este mundinho chamado moda, e suas diversas facetas! hehe.. E como sempre, vim compartilhar neste espaço com vocês!
Os 20 finalistas do 5° Concurso
As marcas que ditam moda hoje fazem isso para pessoas magras e altas, ou seja, uma parcela mínima da população. Resultado disso? Pessoas acima do peso vestindo roupas que não servem direito, outras usando peças inadequadas a sua idade, e deficientes com roupas que machucam ou não conseguem comprar ou vestir sozinhos, tirando a independência do indivíduo.
Um fato curioso é que no Brasil existem 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, ou seja, 23,9% da sociedade. Sacou? Quase ¼ de brasileiros! E o mercado continua ignorando essa situação.
Já comentei algumas vezes aqui como a moda é um dos jeitos de mostrar nossa identidade, personalidade e estilo, logo ela deve ser democratizada e acessível para todos os cidadãos. E assim, para incluir corpos que a moda atual não contempla surgiu a Moda Inclusiva olhando além do corpo perfeito, mas principalmente para a ergonomia, mobilidade e funcionalidade das peças.
Se pararmos pra pensar as dificuldades de um deficiente desde a hora da compra até a parte de se vestir, encontraremos muitas. Cada deficiência gera um empecilho, seja na hora da compra para cegos, que muitas vezes são enganados quanto as cores dos produtos; aos cadeirantes com dificuldade de acesso e movimentação dentro das próprias lojas; a modelagem de uma calça jeans, que ao vestir um corpo que não se movimenta, gera machucados; entre outras dificuldades.
Além disso, para a pessoa com deficiência é uma conquista conseguir escolher uma roupa bonita e confortável e poder vesti-la sozinha. E isso só aumenta a autonomia e auto-estima deles.
Então para suprir essa necessidade, em 2009 foi realizado o 1° Concurso de Moda Inclusiva, uma iniciativa da Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo. Nele podem se inscrever designers que desejam exercer sua criatividade, através de looks para pessoas com deficiência. A sacada está em pensar nas soluções que atendam esse mercado, com materiais especiais, deslocamento das costuras, posições dos bolsos, entre outras adaptações que tragam conforto e praticidade.
Em paralelo com o Concurso, desde o ano passado acontece o Fórum Internacional de Moda Inclusiva e Sustentabilidade, trazendo trabalhos científicos relacionados ao tema e uma mesa redonda com discussões entre especialistas do setor. Muito enriquecedor para quem pretende desenvolver algum trabalho deste tipo, e também para o aprendizado do público em geral.
E como tive a oportunidade de estar presente na mesa redonda, um dos pontos que mais me chamou a atenção foi quando uma das pesquisadoras do assunto, Mariana Roncoletta, disse que já procurou ao redor do mundo países que investem na Moda Inclusiva, e de acordo com ela há pouquíssimo material sobre este assunto, e ninguém desenvolvendo um projeto como este aqui no Brasil. (Hello, oportunidade!)
Agora vou mostrar para vocês o trabalho dos 3 primeiros colocados do Concurso!
A grande vencedora foi Patrícia Helena Galves, sua inspiração para este trabalho veio de uma peça de teatro com cadeirantes, ao perceber a leveza dos atores superando seus limites. A roupa além de ter várias funcionalidades como grande parte em malha e tecido confortável, consegue aliar pontos da moda como o bordado nos ombros e bolsos. Ela fica satisfeita em perceber que a moda pode contribuir muito para facilitar o cotidiano das pessoas com deficiência, e acredita que isso sim é inclusão.
O segundo colocado foi Eli Golande. Inspirado na torre de TV de Berlim, onde nascem as linhas retas e o corte seco, justo em calças e casacos, no tênis vintage de cano alto estabelece uma conexão com os não cadeirantes, mostrando que com as devidas adaptações nenhuma fronteira é intransponível. O casaco tem um sistema de articulação interno coberto com plástico, abertura na gola, e aplicação de tecido nas costas.
E por fim, Nadir de Almeida traz para a moda masculina uma calça especial para cadeirantes, ou quem utiliza prótese nos membros inferiores. Um sistema de aberturas estratégicas facilita o vestir, despir e auxilia nas questões urológicas e sexuais, aliado a tecidos confortáveis e de qualidade, além de fechos facilitadores com velcro e elástico. Ela acredita que refletir sobre a deficiência é alargar o olhar do processo criativo, e fazer moda para todos.
Ainda bem que mesmo lentas, existem iniciativas como esta não é pessoal? Espero ter contribuído um pouco mais para o conhecimento de vocês, e percebam como a moda é muito vai muito além do luxo desejado e do fast fashion adquirido.
Grande beijo e uma ótima semana.
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